Câncer do Sistema Nervoso: Perguntas e Respostas

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Reconstrução 3D a partir de ressonância de crânio mostrando um tumor cerebral (branco)

Aqui você encontra respostas às perguntas mais frequentes de nossos pacientes sobre os diferentes tipos de câncer do sistema nervoso. Não encontrou a sua pergunta? Deixe um comentário no fim do texto que vamos respondê-la com prazer.

Qual a diferença entre tumor e câncer?

Em medicina, o termo tumor nem sempre quer dizer um problema oncológico. Uma tumoração indica qualquer aumento anormal de volume tecidual em alguma região do corpo, mas não necessariamente um câncer.

Em oncologia, tumor refere-se a um aumento desordenado de células de um órgão ou sistema do corpo. Tumores de crescimento mais lento e restritos à região de origem são chamados de “benignos”.

Por outro lado, aqueles que apresentam crescimento rápido, com capacidade de infiltrar tecidos ao redor e de eventualmente se espalhar para outros órgãos à distância são chamados “tumores malignos” ou câncer. Importante lembrar que as opções de tratamentos oncológicos têm avançado bastante, melhorando as chances de controle e de cura de muitos tipos de tumores.

O que é e por que surge um tumor ou câncer?

Esse aumento celular ocorre por um erro de programação que induz ou deixa de suprimir a multiplicação das células. Existem fatores genéticos, ambientais e comportamentais que podem aumentar o risco de desenvolver a doença. Algumas doenças genéticas familiares ou presença de alguns tipos de doença oncológica prévia na família aumentam a chance de nova ocorrência nas próximas gerações. São exemplos de doenças genéticas familiares associadas ao aparecimento de tumores do sistema nervoso a neurofibromatose, a esclerose tuberosa e a síndrome de Li Fraumeni. As exposições (ambientais) à radiação ionizante (p.ex., raio-x, radiação nuclear e o radônio, encontrado em minas) e ultra-violeta (emitida pelo sol ) são sabidamente cancerígenas. Da mesma forma, fatores comportamentais, como o fumo (tabagismo), aumentam o risco de câncer de boca, garganta, pulmão, trato gastrointestinal e bexiga.

Quais são os sintomas de tumor cerebral?

Os sintomas variam de acordo com a localização, tamanho e velocidade de crescimento do tumor. Os sintomas mais frequentes são crises convulsivas, dor de cabeça, náuseas e vômitos, fraqueza e alteração comportamental.

Quais são os sintomas mais comuns de tumores na coluna e medula espinhal?

Os sintomas dependem novamente da localização e das estruturas envolvidas. Quando o problema está apenas na parte estrutural da coluna vertebral (p.ex., ossos), o sintoma mais comum é a dor, que ocorre mesmo em repouso, mas pode piorar com a movimentação e impacto. Por outro lado, quando há envolvimento, compressão ou alteração do tecido nervoso (medula espinhal e raízes nervosas), além de dor na coluna e nos membros, podem aparecer sintomas como fraqueza, formigamento, desequilíbrio, dificuldade para caminhar e alteração do controle da urina e das fezes (incontinência). O ideal é que se procure orientação médica o mais precocemente possível.

Quais são os tipos de tumor do sistema nervoso?

Os tumores do sistema nervoso são divididos em tumores primários (aqueles que nascem diretamente do cérebro, medula ou meninges) e tumores secundários ou metástases (que são originários de outros orgãos e chegam ao sistema nervoso através da circulação). As metástases são bastante mais frequentes que os tumores primários, sendo originárias principalmente de câncer de mama, pulmão, colon, rins e pele (melanoma).

Qual a diferença entre câncer na medula espinhal, na medula óssea e na coluna vertebral?

Medula espinhal, medula óssea e coluna vertebral são estruturas anatômicas completamente distintas.

A medula óssea (também conhecida como “tutano”) é onde células do sangue são produzidas, e encontra-se na porção interna (esponjosa) de ossos longos e planos, como o sacro, ilíaco e o esterno. Câncer envolvendo a medula óssea são geralmente doenças hemato-oncológicas, tais como as leucemias.

A medula espinhal, por outro lado, é parte do sistema nervoso central e consiste em uma continuação do cérebro e tronco encefálico, levando e trazendo informações do cérebro de/para o restante do corpo. A medula espinhal fica protegida no interior da coluna vertebral.

Tumores da região da medula espinhal e da coluna vertebral podem ser divididos em: tumores intramedulares, tumores intradurais e extramedulares e tumores extradurais. Os tumores extradurais são em sua maioria tumores ósseos envolvendo a coluna vertebral, como as metástases. Dentre os tumores intradurais e extramedulares os mais comuns são os neurinomas (schwannomas) e os meningiomas espinhais. Os tumores intramedulares mais frequentemente encontrados são os ependimomas e os astrocitomas pilocíticos.

Quem pode ter câncer do sistema nervoso? Qual a idade mais comum?

Câncer do sistema nervoso pode ocorrer em qualquer faixa etária, sendo o tipo mais comum de doença oncológica em crianças entre 0 e 14 anos, e o segundo tipo mais comum entre 15 e 19 anos de idade. Dentre os pacientes pediátricos, a incidência maior está entre menores de 5 anos. Os tipos histológicos mais comuns na faixa etária pediátrica são os gliomas, tumores embrionários e os tumores de linhagem germinativa.

Entre adultos, o câncer do sistema nervoso está entre os oito mais frequentes, atrás de câncer de mama, próstata, pulmão, câncer colorretal, melanoma, linfoma não-Hodgkin e câncer renal. A grande maioria dos tumores do sistema nervoso em adultos tem comportamento mais indolente e crescimento lento, sendo os meningiomas e tumores hipofisários os tipos mais comuns. Dentre os tumores mais agressivos, os gliomas são os mais comuns nesta faixa etária, sendo o glioblastoma o mais frequente entre a 5a. e 7a. décadas de vida.

Como se faz o diagnóstico de câncer do sistema nervoso?

Quando se fala em diagnóstico logo se pensa em exames sofisticados. No entanto, uma boa avaliação clínica e exame neurológico no consultório são fundamentais para o médico poder indicar os melhores exames complementares para a confirmação diagnóstica e planejamento do tratamento. De maneira geral, quando há suspeita de câncer do sistema nervoso, a ressonância magnética e a tomografia computadorizada são os exames que oferecem maior detalhe da estrutura e anatomia do cérebro e da medula espinhal, tanto para diagnóstico, quanto para o planejamento do tratamento. Além disso, outros exames podem ser úteis para estadiamento e seguimento oncológico.

Quando devo procurar um especialista em neurocirurgia?

A oncologia neurocirúrgica trata dos tumores do sistema nervoso, que incluem os tumores intracranianos, cerebrais, medulares, da coluna vertebral e do sistema nervoso periférico.

Os tumores do sistema nervoso podem aparecer em pacientes de todas as idades, e na maioria das vezes, um procedimento cirúrgico se faz necessário. Os objetivos principais de um procedimento cirúrgico são:

  1. remover o tumor
  2. fazer o diagnóstico exato do tipo de tumor (exame histopatológico)
  3. descomprimir estruturas nervosas que estejam sendo prejudicadas pelo tumor
  4. planejamento do tratamento oncológico adjuvante

Atualmente, dispomos de técnicas cirúrgicas bastante avançadas, tornando estes procedimentos mais seguros para os pacientes.

Qual é o câncer do sistema nervoso mais frequente e como tratar?

Existem inúmeros tipos de tumores que podem aparecer no sistema nervoso, inclusive no cérebro e na medula espinhal. De maneira geral, a primeira etapa de qualquer tratamento oncológico consiste em realizar o diagnóstico correto do tipo e características do tumor, para que seja possível definir a melhor estratégia de tratamento. No caso do cérebro, o glioblastoma é o tumor maligno primário mais frequente no adulto, sendo que o tratamento consiste em remoção cirúrgica e complementação com quimioterapia e radioterapia. Atualmente, sabemos que os glioblastomas não são todos iguais, havendo variações genéticas entre eles, o que leva a diferentes evoluções clínicas e respostas aos tratamentos disponíveis.

Cirurgia para tumor na cabeça é segura?

Sim, com o desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, a neurocirurgia para o tratamento de tumores do sistema nervoso tem se tornado cada vez mais rápida, precisa e segura. O risco de complicações reduziu consideravelmente com o advento do microscópio cirúrgico, da monitorização intraoperatória, da neuroanestesia e do refinamento da técnica cirúrgica. No entanto, qualquer procedimento cirúrgico envolve riscos, tais como o risco anestésico, de infecção, problemas de cicatrização, sangramento e piora neurológica. Os casos devem sempre ser avaliados individualmente, para um planejamento cirúrgico adequado, a fim de antecipar dificuldades e evitar complicações.

Cirurgia para câncer na coluna é perigoso?

Quando se fala em cirurgia para tumores da região da coluna vertebral, deve-se distinguir entre tumores da coluna (osso) propriamente dita, do tecido nervoso (medula e nervos) ou das meninges, que envolvem a medula espinhal. Cirurgia pode ser desde uma biópsia de um tumor ósseo, por punção, em anestesia local, até uma cirurgia aberta, em anestesia geral, para remoção do tumor, descompressão do tecido nervoso e estabilização da coluna, de acordo com cada caso. De maneira geral, a cirurgia da coluna tem se tornado cada vez mais segura e menos invasiva. Os riscos individuais associados a cada caso devem ser discutidos com a equipe médica, para que o paciente e familiares estejam cientes e preparados para cada etapa do tratamento.

Como se preparar para uma cirurgia?

A preparação que antecede qualquer cirurgia é uma etapa muito importante e deve ser bem esclarecida com seu médico.

Aqui segue um lista com orientações para quem já está com a cirurgia agendada:

  • Combine com a equipe médica se a internação ocorrerá na véspera ou no dia da cirurgia
  • Leve sempre TODOS os exames pré-operatórios, inclusive os CDs dos exames radiológicos, avaliação cardiológica e/ou pré-anestésicas realizadas
  • Leve sempre TODAS as medicações de uso contínuo para o hospital, assim como trocas de roupas e artigos de higiene pessoal.
  • Medicações como AAS, clopidogrel e demais antiagregantes plaquetários devem ser suspensos de 7 a 14 dias antes da cirurgia. Certifique-se com seu médico como proceder.
  • Medicações anticoagulantes (tais como Marevan, Pradaxa, Rivaroxabana, Eliquis etc) devem ser suspensos com antecedência. Certifique-se com seu médico como proceder.
  • Medicamentos derivados de plantas, como cápsulas de alho, erva-de-são-joão, ginkgo biloba, ginseng, guaco, kava-kava, passiflora e valeriana, entre outros, aumentam o risco de sangramento, por isso seu uso deve ser suspenso pelo menos 2 semanas antes da cirurgia.
  • Não se preocupe com o corte de cabelo, isso será feito pela própria equipe médica no hospital, sob técnica asséptica, apenas na região necessária.
  • Em caso de dúvidas, entre em contato com a equipe médica para esclarecimentos.

Como é a recuperação de cirurgia de tumor da cabeça ou coluna?

Em casos de cirurgias eletivas, o tempo de internação é geralmente curto, possibilitando o paciente continuar a recuperação e reabilitação em domicílio. O tempo para retomar as atividades de trabalho e condução de veículos varia de acordo com as peculiaridades de cada caso, devendo ser discutido individualmente com a equipe médica.

Quando a radioterapia ou quimioterapia são necessárias no tratamento de tumores do sistema nervoso?

A quimioterapia é um tipo de tratamento medicamentoso, que pode ser realizada por via endovenosa ou por via oral, sendo necessária em casos de tumores com maior risco de recorrência, como por exemplo no caso de gliomas de alto grau e das metástases. A radioterapia pode ser utilizada como complemento ao tratamento cirúrgico, em associação à quimioterapia, isolada ou para o controle de dor oncológica.

Tumor cerebral tem cura?

Existe mais de uma centena de tipos de tumores que podem ocorrer no sistema nervoso, incluindo cérebro, medula espinhal, coluna e nervos periféricos, portanto o tipo de tratamento e prognóstico depende muito do tipo do tumor, características histológicas e genéticas, localização, idade e condições gerais de saúde de cada paciente.

Novos tratamentos e linhas de pesquisa

Diversas linhas de pesquisa investigam potenciais novos métodos de rastreio oncológico, diagnóstico precoce, métodos de tratamento medicamentoso, radioterápico e neurocirúrgico para tumores do sistema nervoso. Existe grande potencial de surgimento de novas medicações, vacinas entre outros métodos de tratamento em breve, que levarão em conta as características genéticas de cada tumor, aumentando a eficácia e reduzindo efeitos adversos do tratamento.


Luciano Furlanetti, MD, PhD, FEBNS

CRM 121.022 | Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) | Membro Titular da Sociedade Alemã de Neurocirurgia (ÄK-DGNC) | Membro Titular da Sociedade Britânica de Neurocirurgia (SBNS)| Doutorado e Pós-Doutorado em Neurocirurgia Funcional – Alemanha/UK | Clinical Fellowship Neurocirurgia Funcional – King’s College Hospital, Londres, Reino Unido | Clinical Fellowship Neuro-oncologia – King’s College Hospital, Londres, Reino Unido

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