Os problemas da articulação temporo-mandibular, dores de origem muscular, miofascial e tensional são certamente as causas mais comuns de dor facial. No entanto, a dor do nervo trigêmeo (também chamada de trigeminalgia ou neuralgia do trigêmeo) é uma causa de dor facial de forte intensidade e incapacitante, cujo diagnóstico deve ser lembrado e reconhecido, para que o problema possa ser tratado adequadamente.
Como reconhecer a dor do nervo trigêmeo: os sintomas
No início, a trigeminalgia apresenta-se com uma leve sensação de choque ou “pontadas” na face. Esse “choque” pode, entretanto, evoluir para uma dor de forte intensidade, mais comumente na região da bochecha, lábios, asa do nariz ou ao redor do olho, geralmente em apenas um lado do rosto, com duração de segundos a poucos minutos. A mastigação, a fala, ou o simples toque na pele do rosto, na língua ou na gengiva pode provocar essa dor, que chega a ser tão intensa a ponto de impedir a pessoa de se alimentar adequadamente, de lavar o rosto, de realizar higiene bucal ou de se barbear. Além da dor, outros sintomas como lacrimejamento ou coriza nasal podem ocorrer.
A dor do nervo trigêmio é considerada uma dor crônica da face e deve ser tratada com ajuda de um especialista. Muitos pacientes oscilam entre períodos de melhora e piora da dor, porém há uma tendência de agravamento progressivo dos sintomas com o tempo, levando a um impacto na produtividade e qualidade de vida da pessoa.
O que causa a trigeminalgia
O nervo trigêmio (em destaque em amarelo na figura abaixo), é um nervo importante que conduz informações sensitivas e motoras para a região da face, boca e língua. A dor do nervo trigêmeo é mais frequentemente causada por uma compressão de um vaso – artéria ou veia – que passa sobre esse nervo. A trigeminalgia pode também estar associada a outros problemas de saúde, tais como a esclerose múltipla. Uma avaliação clínica e radiológica criteriosa deve ser realizada para confirmação diagnóstica e adequação do tratamento.

Como tratar a dor do nervo trigêmeo
O tratamento é realizado inicialmente com medicamento via oral (comprimidos), o que costuma levar a um alívio importante da dor. No entanto, em casos de melhora parcial, piora da intensidade da dor ou intolerância às medicações, há alternativas cirúrgicas que podem oferecer grandes chances de melhora.
As alternativas cirúrgicas, em casos refratários ao tratamento clínico, são: a compressão por balão, a ablação por radiofrequência e a descompressão microcirúrgica do nervo trigêmeo. O método cirúrgico a ser empregado depende, no entanto, de diversos fatores, como por exemplo a idade do paciente, condições clínicas, estado de saúde e a presença ou não de conflito neurovascular no exame de ressonância magnética do crânio.
Microcirurgia para descompressão do nervo trigêmeo
Em casos de trigeminalgia clássica, – ou seja, em que há compressão do nervo trigêmeo por pequenos vasos no interior da cabeça – a descompressão microvascular desse nervo trigêmeo é o método de tratamento de escolha, que tem as melhores chances de sucesso. A cirurgia consiste em reposicionar pequenas artérias ou veias que possivelmente estejam em contato direto com a raiz do nervo junto ao tronco encefálico. Para isso, a cirurgia é realizada em centro cirúrgico, em anestesia geral e por equipe experiente. Uma pequena incisão e acesso cirúrgico na região atrás da orelha se fazem necessários. O tratamento cirúrgico da neuralgia do trigêmeo é bastante eficaz, possibilitando rápida recuperação e retorno às atividades.

Po outro lado, quando não há evidência de conflito neurovascular nos exames de imagem que justifiquem a dor, ou ainda em situações em que o paciente não tenha condições clínicas de passar por uma cirurgia craniana, há a possibilidade de realizar o tratamento através de procedimentos minimamente invasivos, como a compressão por balão ou ablação por radiofrequência.
Compressão por Balão
A compressão do gânglio do nervo trigêmeo (chamado Gânglio de Gasser) por balão é realizada em centro cirúrgico, em anestesia geral e guiada por exame de imagem (raio-x) intraoperatório. A técnica é bastante segura e consiste em posicionar um delicado cateter nas proximidades do gânglio trigeminal na base do crânio. Não há necessidade de incisão cirúrgica, sendo que apenas uma cânula é usada e o trajeto realizado por punção. Após posicionamento correto do catéter, o balão é insuflado, levando à compressão do gânglio trigeminal e bloqueio da transmissão de dor. Terminado o procedimento, o cateter é retirado. Pacientes apresentam melhora importante da dor, além de diminuição da sensibilidade da face imediatamente após a cirurgia. Muitas vezes é possível inclusive a redução ou suspensão da medicação para controle da dor. Em casos, de recorrência da trigeminalgia, este mesmo procedimento pode ser repetido.

Ablação por radiofrequência
Alternativa à compressão por balão é a ablação por radiofrequência (RF). A técnica utilizada é exatamente a mesma descrita acima, porém com algumas pequenas modificações. A RF deve ser realizada com anestesia local e sedação, pois o teste de estimulação e o mapeamento intraoperatório se fazem altamente necessários para que a ablação seja realizada seletivamente. Portanto, para este procedimento, a equipe médica necessita da colaboração do paciente durante a cirurgia. Pacientes apresentam melhora importante da dor imediatamente após a cirurgia.
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Luciano Furlanetti, MD, PhD, FEBNS
CRM 121.022 | Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) | Membro Titular da Sociedade Alemã de Neurocirurgia (ÄK-DGNC) | Membro Titular da Sociedade Britânica de Neurocirurgia (SBNS)| Doutorado e Pós-Doutorado em Neurocirurgia Funcional – Alemanha/UK | Clinical Fellowship Neurocirurgia Funcional – King’s College Hospital, Londres, Reino Unido | Clinical Fellowship Neuro-oncologia – King’s College Hospital, Londres, Reino Unido