Dor nas Costas: Perguntas e Respostas

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Por que tenho dor nas costas?

“Dor nas costas” é um termo bastante genérico, podendo indicar dor na região da coluna cervical (pescoço), torácica (meio das costas), lombar (parte de baixo da coluna) ou na transição lombossacral (bem embaixo das costas, perto do quadril). Veja o esquema abaixo e conheça um pouco sobre a anatomia da coluna vertebral.

A dor na parte baixa da coluna (lombar) é o tipo mais comum de dor nas costas em adultos, e também a principal causa de afastamento do trabalho no mundo. Chamamos de dor lombar crônica aquela que apresenta mais de 12 semanas de duração. A principal causa de dor lombar é a sobrecarga nessa região, devido à própria massa corporal, má postura e também atividades que realizamos diariamente, em casa ou no trabalho.

De onde vem minha dor nas costas?

A dor nas costas em adultos origina-se nos músculos, ligamentos e articulações que mantem a coluna em posição. Portanto, movimentos repetidos, carregar peso, ou aquele famoso “mau jeito”, são causas muito frequentes de lesão dessas estruturas e, consequentemente, de dor.

Além disso, hérnia de disco, protrusões discais e rupturas do disco intervertebral também podem causar dor. Outras causas de dor nas costas são inflamação nas articulações da coluna (osteoartrite), lesões ósseas (fratura) e osteoporose.

O que é a hérnia de disco da coluna?

O disco intervertebral é um tipo de amortecedor que fica entre uma vértebra da coluna e outra (veja a figura). Este disco é composto por uma capa mais firme (anel fibroso) que contém uma espécie de gelatina (núcleo pulposo). Excesso de carga e o próprio envelhecimento da coluna levam a uma fragilização do anel fibroso e, muitas vezes, extravasamento desse conteúdo. A hérnia de disco nada mais é que a tal gelatina (fragmentos de núcleo pulposo) que escapou de dentro do disco (figura).

 Exame de ressonância magnética da coluna lombar, mostrando uma grande hérnia de disco ocupando o canal vertebral. A seta indica o fragmento saindo de dentro do disco intervertebral em direção ao canal vertebral.

Hérnia de disco é perigoso?

A hérnia de disco pode comprimir raízes nervosas localizadas dentro do canal vertebral ou nos forames vertebrais (local de saída dos nervos em direção às pernas). Esta compressão pode causar dor, perda de sensibilidade nos membros inferiores (coxas, pernas e pés), perda de força, dificuldade para caminhar e até incontinência urinária e fecal (dificuldade de controlar urina e fezes). Mas na grande maioria dos casos, em que pacientes apresentam apenas dor e/ou formigamento, o problema se resolve em poucos dias, sendo necessário apenas o uso de analgésicos e repouso.

No entanto, caso você apresente dor de forte intensidade, que não melhora com a medicação analgésica, perda de força nas pernas e/ou alteração do controle de urina/intestino, procure um especialista em coluna imediatamente, pois poderá ser necessário um pequeno procedimento cirúrgico para evitar que o problema se agrave ainda mais. Aliás, a perda de força nos membros e incontinência são indicações de cirurgia de urgência para remoção da hérnia de disco e descompressão dos nervos da coluna.

O que é o bico de papagaio na coluna?

O “bico de papagaio” é o nome popular que se dá aos chamados osteófitos que aparecem na coluna vertebral. A sobrecarga e o próprio processo de envelhecimento da coluna vertebral levam a formação anormal de tecido ósseo próximo às articulações da coluna, inclusive na região do disco intervertebral. É um tipo de resposta do organismo à sobrecarga, a pequenos traumas e à inflamação. Estas pequenas formações ósseas foram batizadas de bico de papagaio pelo formato que assumem quando vistas em exames de raio-x (veja a figura abaixo). Outros problemas de saúde, como artrite e doenças reumatológicas podem causar o aparecimento de osteófitos na coluna e em outras articulações do corpo.

Em resumo, o bico de papagaio nada tem a ver com a hérnia de disco. Apesar de ambos estarem relacionados à sobrecarga e envelhecimento da coluna, são problemas diferentes. 

Exame de raio-x da coluna lombar. As setas apontam para os osteófitos (bicos de papagaio) na coluna

Como diferenciar dor de infarto, dor de rim de outras dores nas costas?

Pergunta bastante importante. De maneira geral, a angina ou dor de infarto do miocárdio (coração) é uma dor em aperto ou queimação que aparece de repente, na região do peito (mais à esquerda) e pode irradiar-se para o queixo e para os braços (mais frequentemente o esquerdo) e para a parte alta das costas, a depender da região do coração acometida. Já a dor renal aparece normalmente na região dos flancos, ou seja, na parte baixa e lateral das costas. É uma dor em cólica, frequentemente em apenas um lado, e que muitas vezes se irradiar para a região da virilha.

Outros problemas de saúde que podem se manifestar com dor nas costas podem ter origem pulmonar, gastrointestinal, pancreática, biliar, vascular, ginecológica, entre outros.

Existem, portanto, inúmeros problemas de saúde que podem causar dor nas costas. Fique ligado e procure sempre orientação médica para um exame apropriado e esclarecimento em caso de dor!

Quais são os tipos de dor na parte de baixo das costas?

Os principais tipos de dor na região lombar da coluna são:

  1. dor mecânica, que pode ter origem muscular, articular, sacroilíaca ou no disco intervertebral
  2. dor neuropática, que ocorre quando há algum tipo de compressão das raízes nervosas e nervos, em qualquer ponto do trajeto entre sua origem no canal vertebral até o destino nos membros
  3. dor por sensitização, que é um fenômeno um pouco mais complexo e ocorre quando dores de origem mecânica ou neuropática se cronificam, de modo que o corpo se torna anormalmente mais sensível à dor.

Como melhorar as dores nas costas?

Antes de mais nada é preciso identificar exatamente a causa da dor. Um médico especialista em tratamento dos problemas da coluna vertebral saberá identificar a origem da dor por meio de uma consulta e exame físico. Muitas vezes se faz necessário complementar a investigação com exames de imagem, como raio-x, tomografia ou ressonância magnética. Seu médico saberá quando solicitá-los.

Assim, sabendo exatamente qual o problema em questão, pode-se traçar um plano de tratamento mais adequado para cada caso, que pode envolver medicação, reabilitação com fisioterapia, hidroterapia, bloqueios guiados por imagem, e quando realmente necessário, cirurgia da coluna. Mas cada caso é um caso, e o tratamento deve ser individualizado para cada paciente.

Quais exercícios são bons para dor nas costas?

Manter-se ativo, evitar sobrecarga de peso e atentar para a postura são fundamentais para evitar os problemas da coluna vertebral. A Organização Mundial da Saúde recomenda o mínimo de 20 minutos de atividade física aeróbica moderada por dia, 7 dias por semana, sendo desenvolvida em turnos de 10 minutos seguidos. Além disso, recomenda-se atividades de fortalecimento muscular e alongamento pelo menos 2 vezes por semana para evitar lesões musculares e ligamentares. Portanto, atividades como caminhada, bicicleta, natação e Yoga são boas alternativas para manter corpo e mente saudáveis. Um trabalho publicado em 2015 mostrou que Pilates é um método bastante eficaz no tratamento da dor lombar e melhora da capacidade funcional em pacientes com dor cronica, com bons resultados a curto e médio prazo. Faremos um post em breve especificamente sobre este tema.

Qual remédio é bom para dor nas costas?

Como disse antes, dor nas costas é o tipo mais comum de dor entre adultos e a principal causa de afastamento do trabalho no mundo. Por ser um problema de saúde bastante frequente, muitas pessoas acabam se automedicando para controlar a dor, o que pode certamente gerar ainda mais problemas de saúde! Medicações para dor vendidas em balcões de farmácia podem causar interação com remédios de uso contínuo, reação alérgica, problemas gastrointestinais ou até de coagulação do sangue. Portanto, antes de tomar aquele comprimido que o vizinho recomendou, consulte um médico especialista em coluna para saber exatamente qual o problema e causa da dor, para então poder realizar o tratamento adequado para o seu caso.

Quando se preocupar com a dor nas costas? Quando procurar um especialista?

Dor é um mecanismo de defesa do corpo, no entanto sofrer com dor crônica não é normal. Como discutimos, muitas das causas de dor nas costas estão relacionadas a atividades que fazemos no nosso dia a dia. Má postura em casa e no trabalho, sedentarismo, carregar peso e a própria obesidade são causas comuns de dor nas costas. Muitas vezes a dor aparece em um dia, e no outro já não está mais lá. Excelente, problema resolvido! No entanto, há situações em que a dor persiste e começa a atrapalhar ou impedir a realização das atividades do cotidiano. Quando isso acontece, o problema deve ser investigado por um médico especialista em tratamento da dor e cirurgia de coluna.

Além disso, dor associada a piora neurológica, ou seja, fraqueza muscular, formigamento, incontinência urinária ou fecal, desequilíbrio e febre deve ser imediatamente avaliada por um médico especialista em coluna.

Fiz cirurgia na coluna e ainda tenho dores muito fortes. Tenho feito fisioterapia, mas dormir é muito difícil. Coloquei vários parafusos e uma contenção. A dor que eu sinto agora é pior que antes da cirurgia. É normal?

Definitivamente isso não é normal e deve ser investigado. As cirurgias de fixação da coluna lombar normalmente têm como objetivo dar estabilidade para aquela região operada, ou seja, evitar que as vértebras (ossos) onde foram colocados os parafusos movam entre si. Mesmo em cirurgias de  grande porte, depois de passado o período de cicatrização da ferida operatória, que leva por volta de duas semanas, os pacientes já não costumam mais sentir dor relacionada à cirurgia.

Vou citar aqui algumas das principais causas de dor prolongada após cirurgia da coluna:

  1. Imobilidade: esta é provavelmente a causa mais comum de dor. Muitos pacientes permanecem pouco móveis durante as primeiras semanas de pós-operatório, devido a dor na região da ferida operatória ou mesmo devido ao porte da cirurgia. Articulações, músculos e ligamentos do corpo necessitam de movimento para se manterem saudáveis. Quando ficamos muito parados estas estruturas sofrem mudanças radicais. Pasmem, os músculos chegam a perder até 40% da força e do volume durante uma semana de repouso absoluto, em pacientes acamados! Portanto, longos períodos de convalescença e inatividade, podem fazer a volta às atividades mais difícil e dolorosa.
  2. Dor sacroilíaca: outra causa bastante comum de dor no pós-operatório de cirurgia de coluna, principalmente da região lombar, é a inflamação das articulações sacroilíacas (chamada sacroileíte). Neste caso, o maior incomodo aparece ao ficar muito tempo sentado, em pé ou nas mudanças de posição. A região sacroilíaca (bem embaixo na coluna, próximo ao quadril) pode inclusive ficar bastante sensível ao toque. Várias são as possíveis causas da sacroileíte, sendo que medicação analgésica, reabilitação e por  vezes um bloqueio local com anestésicos e anti-inflamatórios aliviam os sintomas possibilitando a reabilitação.
  3. Problemas com os implantes: soltura, quebra ou mal posicionamento dos implantes podem acontecer neste tipo de cirurgia. Estes certamente podem ser causadores de dor pós-operatória e devem ser investigados.
  4. Inflamação e/ou Infecção (chamada discite) pós-operatória: infecção também pode ser um causador de dor em pacientes submetidos a cirurgia de coluna, principalmente naqueles que foram submetidos à cirurgia envolvendo o uso de próteses (hastes e parafusos). Nesse caso, a dor pode aparecer já nas primeiras semanas de pós-operatório ou até mesmo meses após. Dor forte na região operada, problemas de cicatrização com a ferida operatória, febre e/ou piora neurológica (diminuição das forças nas pernas, perda do controle da urina) são sinais de alerta. Esse tipo de infecção é potencialmente grave e deve ser tratada. Portanto, neste caso, procure um médico especialista em coluna imediatamente!

O que é infiltração ou bloqueio para dor na coluna?

A forma mais comum de dor crônica nos dias de hoje é a dor lombar. A grande maioria dos casos podem ser resolvidos com tratamento medicamentoso, mudanças de hábito de vida, perda de peso e reabilitação, como falamos anteriormente. No entanto, muitas vezes se faz necessário o uso de métodos minimamente invasivos para alívio da dor. Os chamados bloqueios (ex. radiculares, facetários ou de nervos periféricos) podem ser utilizados para diagnóstico ou tratamento da dor, em casos específicos. Esses procedimentos visam o alívio da dor e são realizados em ambiente de centro cirúrgico, com técnica asséptica e via de regra, guiados por imagem (ex. raio-x, ultrassom ou tomografia computadorizada). A mesma técnica pode ser utilizada no tratamento da dor crônica da coluna cervical e torácica. O procedimento consiste em levar a medicação diretamente ao local de origem da dor na coluna, com resposta analgésica mais rápida e menos efeitos colaterais sistêmicos. Os bloqueios podem ser úteis tanto para diagnostico como para tratamento de determinados tipos de dor. Em casos selecionados de dor de origem facetária (articulação da coluna), pode-se também empregar a ablação por radiofrequência, uma técnica parecida com o bloqueio, porém com efeito mais prolongado.

Imagem ilustrativa de um procedimento para tratamento da dor crônica da coluna lombar com bloqueio ou ablação por radiofrequência

O que é estimulação medular para dor?

A estimulação medular é um conceito muito bem estabelecido para o tratamento da dor crônica e refratária da coluna. A técnica de estimulação medular consiste em inserir um eletrodo em proximidade à medula espinhal, diminuindo a transmissão da sensação de dor para o cérebro. Quando indicada, a cirurgia é realizada em ambiente de centro cirúrgico, em técnica totalmente asséptica e pode ser realizada em anestesia local com sedação ou em anestesia geral. Após a inserção do eletrodo de estimulação medular no local apropriado, este é conectado a um pequeno gerador (marca-passo), que por sua vez é totalmente implantado sob a pele. Variações desta mesma técnica podem ser utilizadas no tratamento da dor ciática crônica, dor pós cirurgia para hérnia inguinal, assim como dor pélvica, dor oncológica, dor por lesão de plexo nervoso, entre outros. A estimulação medular também pode ser empregada no tratamento da dor em membros inferiores relacionada à doença arterial obstrutiva crônica e também para alívio da dor torácica anginosa em casos selecionados. Procure um neurocirurgião especialista no tratamento da dor cronica para saber mais.

O que é a estimulação do gânglio da raiz dorsal para tratamento da dor?

A técnica de estimulação do gânglio da raiz dorsal, também chamada DRG (do inglês, dorsal root ganglion) é uma variação do procedimento descrito acima, porém com uma diferença: a estimulação ocorre mais seletivamente, colocando o eletrodo nas proximidades de uma única ou combinação de raízes nervosas. Dessa maneira, consegue-se uma cobertura mais precisa e efetiva da área afetada por dor. O DRG é um método eficaz no tratamento de dor neuropática pós cirurgia de hérnia inguinal, dor em membros inferiores pós-cirúrgicas, síndrome da dor regional complexa e causalgia.

Raio-x intraoperatório mostrando o posicionamento correto de um eletrodo nas proximidades do gânglio da raiz dorsal para tratamento de dor inguinal

O que é uma bomba de infusão de medicação Intratecal?

O sistema nervoso central (encéfalo e medula espinhal) é envolvido e protegido pelas chamadas meninges. Além disso, um sistema chamado barreira hemato-encefálica funciona como um filtro entre o sistema nervoso e a circulação sanguínea. Esse mesmo mecanismo de proteção natural impede ou diminui a ação de determinados medicamentos no cérebro e medula. A bomba de infusão Intratecal de medicamentos consiste em uma maneira de driblar esse mecanismo, com o intuito de aumentar a eficácia de um medicamento no sistema nervoso, evitando os efeitos colaterais da medicação no restante do organismo. Essa técnica é frequentemente utilizada no tratamento da dor crônica e da espasticidade. Diversos medicamentos podem ser utilizados, em crianças e adultos, dependendo da indicação. A cirurgia consiste em inserir cirurgicamente um pequeno tubo flexível (cateter) no canal vertebral, bem próximo à medula, e conecta-lo a uma bomba de infusão eletrônica, que fica alojada embaixo da pele, usualmente na região abdominal. Após a cirurgia o paciente deverá ter acompanhamento periódico por equipe multidisciplinar e pelo neurocirurgião responsável para eventuais ajustes e recarga da medicação.

Como se chama o médico especialista em problemas da coluna vertebral? Que médico procurar quando aparecem as dores nas costas? Qual o tipo de treinamento que o cirurgião de coluna deve ter?

O tratamento dos problemas da coluna vertebral envolve profissionais de diversas áreas da saúde. A cirurgia de coluna é uma especialidade médica e uma subespecialidade da neurocirurgia e da ortopedia.

Especialistas em cirurgia de coluna devem ter: 

  • Graduação em Medicina (6 anos)
  • Residência Médica em Neurocirurgia ou Ortopedia (mínimo 5 anos)
  • Título de Especialista em Neurocirurgia (SBN) ou Ortopedia (SBOT)
  • Especialização em Cirurgia de Coluna, em centros especializados e de grande porte, nacionais e internacionais (mínimo de 2 anos)
  • Educação continuada, apresentação em cursos e congressos

Consulte um médico especialista em cirurgia de coluna para esclarecer o real motivo de suas dores!


No próximo post, falarei sobre os diversos tipos e indicações de cirurgia da coluna vertebral.
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Luciano Furlanetti, MD, PhD, FEBNS

CRM 121.022 | Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) | Membro Titular da Sociedade Alemã de Neurocirurgia (ÄK-DGNC) | Membro Titular da Sociedade Britânica de Neurocirurgia (SBNS)| Doutorado e Pós-Doutorado em Neurocirurgia Funcional – Alemanha/UK | Clinical Fellowship Neurocirurgia Funcional – King’s College Hospital, Londres, Reino Unido | Clinical Fellowship Neuro-oncologia – King’s College Hospital, Londres, Reino Unido

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