SPECT e PET: que exames são esses?
Que exame confirma a Doença de Parkinson? Essa pergunta é bastante frequente no consultório. Aqui, esclarecemos algumas dúvidas referentes à aplicabilidade dos exames de medicina nuclear, SPECT e PET, na investigação de distúrbios do movimento.
PET e SPECT são dois tipos diferentes de exames de imagens que utilizam tecnologia de medicina nuclear para a investigação de diversos problemas de saúde como câncer, epilepsia e distúrbios do movimento. Para aquisição de imagem é necessário utilizar uma medicação que funciona como um marcador radioativo, aplicado via endovenosa. A medicação não é nociva ao organismo. Após um tempo da aplicação, o paciente é colocado em um aparelho parecido com um tomógrafo, que é capaz de detectar a radiação emitida pela medicação e avaliar sua distribuição em diferentes regiões do corpo. Dessa forma, consegue-se avaliar função e metabolismo de diversos órgãos e sistemas do organismo.
Como sabemos, a Doença de Parkinson está relacionada à diminuição de produção de dopamina por uma região do cérebro chamada substância negra pars compacta. O diagnóstico da grande maioria dos distúrbios do movimento, incluindo a Doença de Parkinson, o tremor essencial e a distonia é clínico, ou seja, realizado com base na história clínica e no exame físico realizado pelo médico especialista no consultório. No entanto, principalmente durante os primeiros anos da doença, pode ser difícil distinguir a doença de Parkinson de outras formas de parkinsonismo (induzido por medicações, vascular, psicogênico etc.) ou até mesmo de outras doenças, como o tremor essencial. Nesta situação, exames de imagem podem ser úteis.
A ressonância magnética de crânio na doença de Parkinson é geralmente normal, porém pode auxiliar a excluir outras formas de parkinsonismo ou até mesmo tumores e problemas vasculares que possam estar causando os sintomas.
Nos últimos anos, exames de imagem funcionais, como o PET e o SPECT vêm sendo utilizados para auxiliar no diagnóstico de doenças do sistema nervoso, tais como a Doença de Parkinson, epilepsia e a doença de Alzheimer. Ao contrário da ressonância magnética, que produz informações mais anatômicas do sistema nervoso, o PET (positron emission tomography) e o SPECT (single photon emission computed tomography) servem para investigar o metabolismo e a funcionalidade de determinadas regiões do cérebro, podendo indicar, por exemplo, os diferentes estágios de síntese, liberação e recaptação da dopamina no sistema nervoso.

O 18F-FDOPA é um precursor dopaminérgico utilizado para aquisição de imagem por PET. Uma vez administrado por via endovenosa, a 18F-FDOPA pode ser absorvida e metabolizada no cérebro. A diminuição da absorção desse marcador no núcleo caudado e putamen se correlaciona com aumento de sintomas como a rigidez e a bradicinesia (lentidão de movimentos) no Parkinson. Essa alteração pode estar presente mesmo em fases iniciais da doença.
Já o 123I-isoflupane e o 99mTc-TRODAT-1 são marcadores do transportador de dopamina (DaT), utilizados para obtenção de imagem por SPECT. Esses marcadores são conhecidos e aprovados por agências reguladoras há mais tempo como auxiliares no diagnóstico de Parkinson. Nos EUA e Europa apenas o 123I-isoflupane é aprovado, enquanto no Brasil temos acesso ao 99mTc-TRODAT-1, que é um biomarcador do DaT, presente na membrana pré-sináptica das projeções dopaminérgicas. Ambos são úteis e equivalentes para o exame.
O PET é relativamente mais caro que o SPECT, porém oferece melhor sensibilidade, resolução temporal e espacial. No Brasil, não dispomos de 18F-FDOPA PET, portanto lançamos mão do TRODAT quando necessário. Há estudos mostrando que para fins de diagnóstico diferencial de parkinsonismo os resultados de PET e SPECT se correlacionam, sendo o TRODAT uma opção mais acessível e viável em muitos países.
Devemos ressaltar que nenhum exame de imagem, seja ele ressonância magnética, SPECT ou PET são capazes de diagnosticar a doença de Parkinson, pois como já frisado, o diagnóstico é clínico. Os exames de imagem têm indicação apenas em caso de dificuldade diagnóstica em situações especiais. Portanto, em caso de dúvidas ou evolução fora do esperado, consulte um especialista em distúrbios do movimento para reavaliação ou segunda opinião.
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Luciano Furlanetti, MD, PhD, FEBNS
CRM 121.022 | Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) | Membro Titular da Sociedade Alemã de Neurocirurgia (ÄK-DGNC) | Membro Titular da Sociedade Britânica de Neurocirurgia (SBNS)| Doutorado e Pós-Doutorado em Neurocirurgia Funcional – Alemanha/UK | Clinical Fellowship Neurocirurgia Funcional – King’s College Hospital, Londres, Reino Unido | Clinical Fellowship Neuro-oncologia – King’s College Hospital, Londres, Reino Unido